terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Le Cirque



E o vento se veste de cinza e corre por entre as ruas onde ela está. E é fácil de enganá-la. Basta assoprar algumas palavras aveludadas, assoviar no ouvido da dor ou fazê-la fechar os olhos diante da poeira que ele próprio levanta.

E o vento se faz de amigo e se senta diante dos pés dela. E é tão fácil de fazê-la sorrir. Basta agitar os cantos da alma, bater as portas antigas e escancarar as janelas de vidro que ela insiste em lustrar.

Mas o vento vem vindo de longe. Nunca se sabe qual das esquinas o fará parar.

E é difícil de enganá-lo.
E ela não o vê.
E ele se aproxima.
E ela abre os braços.
E ele a envolve.
E ela não respira.
E ele passa. Levou tudo dela.
Que palhaça!


Texto: Duane Valentim
Imagem: Filme : The Science of Sleep

Um comentário:

  1. Pude notar nesse texto um amadurecimento gigante!
    Amei muito a construção do narrador detalhista e td cheio de belas metáforas, como em "palavras aveludadas", pra depois terminar com "que palhaça". surpreendente, belo e genial! curti demais!

    PS: voltei!

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