domingo, 10 de janeiro de 2010

Acalanto

Sorria menina, sorria. Há tanta gente te olhando. Sorria para disfarçar todos os buracos que carrega ai dentro. Há tanta gente por perto. Há tanto detalhe encoberto.

Se arrume menina, se arrume. Maquie toda e qualquer imperfeição. As gentes não merecem saber da sua solidão. Pinte os olhos e a boca com cores de fingimento e passe um pó para tapar os trincos da agonia.

Alise cada fio de dor, cada frizz de amor, cada gesto de pavor. Seque as lágrimas e sorria, menina. As gentes não se importam com o que você carrega. As gentes só se importam com o como você carrega. Não vale chorar, não vale sofrer, não vale gritar, não vale se esconder.

Apareça menina, apareça. Sempre sorrindo. Cabeça erguida. Passo firme. As gentes precisam saber que você esta bem. Precisam se distrair olhando para os detalhes de fora e assim, nunca repararão no fardo que carrega ai dentro.

E entenda menina, entenda...haverá um momento em que fingir para as gentes inclui fingir para si mesma e que neste jogo de faz de conta, um dia você se dá conta que o vazio que te ocupava foi preenchido por momentos opacos, tristes e mentirosos e que, por terem sido acumulados durante tanto tempo, já não mais descolarão. E que por terem sido acumulados durante tanto tempo, nem mais te incomodarão.

Sorria menina. Sorria...



Texto:  Duane Valentim
Imagem: Renoir

4 comentários:

  1. "Alise cada fio de dor, cada frizz de amor, cada gesto de pavor."

    é triste que seja assim, a única coisa boa é poder ouvir de você desse jeito.
    me encanta e me entristece.

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  2. Matheus; o Marcelino, não o outro.13 janeiro, 2010 09:23

    Realmente, temos que agir conforme nos impõem, mas a cada passo que damos que não vem de nós mesmos, é uma cicatriz que fica.

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  3. cada vez você me surpreende mais!

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