domingo, 24 de abril de 2011

Desordem


E é como construir castelos em cima de ruínas. É como caminhar na fantasia. E a gente se projeta para “o lá na frente” e nem sabe se lá estará. E a gente vai adiando tudo: uma boa noite de sono, uma boa garrafa de vinho, uma noite com amigos, um romance, um livro...

E é como se alimentar de sonhos, e planos. É como sentar e ver o tempo ziguezagueando pela porta dos fundos. E a gente deixa, passivamente, entrarem, saírem, ficarem (se assim desejarem), partirem (se nada encontrarem). E a gente vai ficando grande e continua brincando de esconde-esconde e pega-pega.

E é como continuar nos mesmos contos de fadas e passar a vida esperando o “feliz para sempre”. E é como pisar em nuvens, se amarrar com fios de sonhos, se constituir de ar, de fantasia...E a gente faz questão de entrar nos furacões, e a gente se joga no meio do nada, e não recebe nada, e a gente nem pede nada, mas vai, mais fica, mais quer, mas gosta, mas toma, mais gosta...

E o agora expira. O amanhã, não tem. Quando quer, volta. Quando não quer, não vem. E a gente deixa porque não perde nada. Não ganha, também.



Texto: Duane Valentim
Imagem: Edward Hopper


sábado, 16 de abril de 2011

Anônimo


As portas estavam sempre abertas, mas era dele o hábito de esconder o silêncio dos seus olhos pelos cantos da casa. Também eram dele a voz macia e as mãos pesadas; os traços fortes, o sorriso pausado.

E era dele conseguir se dividir em dois: um pedaço flutuava, o outro se amarrava ao chão. Uma parte ele inventava, a outra, ele mesmo duvidava. E queria estar em todos os lugares, e não queria estar em lugar nenhum.

E ele trocava os nomes, tocava os rostos, trocava os amores. Caminhava sem pressa por espaços inabitados, deixando, em cada partida, outros olhos silenciados.



Texto: Duane Valentim