quarta-feira, 28 de julho de 2010

A Manhã de Domingo


Domingo preguiçoso. O sol da manhã batia na porta de vidro acordando os olhos sonolentos da noite anterior. Noite curta e longa. Noite risonha, de TV ligada, farelo de pão no chão, de tênis jogado, de torneira da pia pingando.

O domingo, de tão preguiçoso, se escondeu debaixo do edredom e nem deu ouvidos pra manhã que o acordava. Manhã feliz e triste. Manhã apressada, de banho tomado, de café sobre a mesa, de cama arrumada.

O domingo, então, acordou. Levantou-se, caminhou até a porta de vidro, abraçou a manhã e sorriu: “bela manhã de domingo”. E a manhã se ensolarou toda!


Texto: Duane Valentim
Imagem: Romero Brito

domingo, 25 de julho de 2010

Amanhecer


Acenderam as luzes da casa. Ouvi alguns passos lentos caminharem até a porta do quarto. Senti um cheiro conhecido tatear minha memória. Um gosto de saudade apertou a garganta e encheu meus olhos de água. Minhas mãos calaram. As poeiras do meu corpo correram para debaixo da cama. Era ele que chegava e a tanto o esperava.

Quando a porta do quarto se abriu, meus olhos grudaram aos dele. A respiração travou assim como os músculos sedentários da espera. Meus lábios tremiam na alegria nervosa. Ele disse algo que só meus olhos ouviram. As lembranças em mim dançavam. Ele voltou e a tanto o esperava.

Um sorriso trombou com uma lágrima saudosa que caia. Lembrei de toda poesia guardada. Lembrei da dor da ausência e apertei meus olhos a fim de apagar qualquer partida. E foi dentro de um abraço demorado que todo meu espaço de felicidade se enfeitou. A tanto eu o esperava. Como é bom saber que voltou!




Texto: Duane Valentim    (28/04/2010)

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Você aqui

Tardes de sol e nuvens brancas.
Não há previsão de chuva
Com você aqui dentro.



Texto: Duane Valentim

quarta-feira, 7 de julho de 2010

O Fim

Horas de soluço_ rosto molhado, mãos frias, garganta seca.
No peito_ o aperto, o amargo, o fardo.
A voz se comprime denunciando o medo.
Os olhos nublados procuram consolo.
As pontas dos pés sentem as lágrimas que caem.

Medo.

Todo corpo se prepara para fugir da dor de ouvir o partir.
A porta se abre.
Só restou eu aqui dentro.




Texto: Duane Valentim
Imagem: "Tristeza", Hugo Espírito

sábado, 3 de julho de 2010

Primeiro Haykai

Manhã de chuva.
Estás em mim,
E isso basta.



Duane Valentim

Manhã Fria

Era uma dessas manhãs frias, em que os ossos acordam espremidos dentro do corpo. Levantei-me e fui até a varanda espiar se o frio de fora era maior do que o frio de dentro.
Um sol preguiçoso batia na grama ainda molhada pela noite anterior. Meus olhos inquietos se esbarraram no jardineiro cor de cansado que sentado estava na frente de uma flor. Flor feia, cor de nada. Apagada e pequena e fraca. E ele para ela olhava, conversava, cuidava...O jardineiro e a flor sem flor. Um diálogo de silêncio. Um fala. O outro cala e senti.

Eu, curiosa, perguntei ao jardineiro o que de tão especial o prendia diante de tal flor. Ele, numa simplicidade de quem apenas sente, sorriu e respondeu que por ela lhe dar tanto trabalho, lhe tinha tanto amor.


Texto: Duane Valentim
Imagem: "Flor Triste"