quarta-feira, 22 de maio de 2013

Amanheceu




Anoiteceu dentro dos meus olhos, de um escuro dessas noites em que a imaginação flutua pelas paredes do quarto, na sempre dúvida da certeza daquilo que se faz. E não há certezas além do não - ver  que tateia, do sentir que me rodeia, do vazio que se repousa aos pés da cama.

Quisera eu que o copo estivesse completo de certezas e que cada gole diluísse as minhas mãos trêmulas e sedentas de repetir o instante de antes. Quisera eu cravar as unhas no escuro dos meus olhos e tirar de dentro as incertezas amanhecidas e acumuladas diariamente, todas as manhãs, das mãos solitárias e largadas na beirada da cama.

Acreditar não ter sonhado é o que me tira desse quarto flutuante. 
Amanheceu.



Texto: Duane Valentim
Imagem: Edward Hopper - Morning Sun

sábado, 4 de maio de 2013

Dentro em Pausas




Meus olhos ficaram mudos. Passaram pelo chão, esbarraram dentro dos olhos dele, voltaram para o chão. Calaram.

O som do sorriso escondendo o silencio que vem de dentro. Meus cabelos tocaram meus lábios. Fechei os olhos e os abri lentamente: esperança do tudo em um novo formato. 

Olhos abertos e machucados. Mudos no infinito do tudo que não foi. Parados no instante do tato, do cheiro, do gosto. Palavras surdas deslizando no canto do ouvido. Respiro...

Dói. Respiro. Dói. Tempo que passa. Ele foi passando longe dos meus olhos. Olhos que não queriam ver. Lábios cheios, mas não dos meus. 

Silencio de tudo que grita de dentro. 
Pausadamente...


Texto: Duane Valentim
Fotografia: Elena Kalis