quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
domingo, 16 de dezembro de 2012
No ônibus
...pois lhe conto mais, Carlos,
meu amigo. Quando a vi pela primeira vez naquela festa (lembro-me como se fosse
hoje), meus olhos pararam nos olhos dela e eu pensei: “que mulher linda!”. Como
que lendo meus pensamentos, ela sorriu, e então eu pensei ainda mais alto a fim
de convencê-la: “realmente linda!”. Só depois de um longo tempo (estava
esperando minhas pernas se moverem!), é que criei coragem de ir conversar com
ela. Foi aí, nesse ponto que eu errei. Não deveria ter conversado com ela,
deveria ter mantido apenas a imagem da mulher linda e não a imagem da mulher
linda, da voz doce, da conversa envolvente, da energia transpirante e do riso
delicioso. E digo ainda mais Carlos: se errei ao descobrir essa mulher, imagine
na imensidão do erro que cometi ao retirá-la da festa e levá-la para casa.
Belos momentos (esses eu guardo, não conto!). Sei que não só a achei especial,
como ela me fez acreditar que ela era especial, e eu juro Carlos, que eu
acreditei nisso. Mas aí os encontros foram se tornando cada vez mais frequentes
e o tempo foi levando embora aquela imagem da mulher maravilhosa do começo. E depois, meu amigo, conheci a Claudia... essa sim era linda!
Nunca vi tanta beleza em uma mulher só! Foi por isso que disse que errei em ter
conversado com a primeira. A segunda é bem mais interessante! Agora tenho me
encontrado com a Cláudia, Carlos...
Texto: Duane Valentim
sexta-feira, 2 de novembro de 2012
Da Janela
Lá vem ela, com o sorriso no
rosto e as dores nos olhos. Pela janela do seu quarto, vê o azul do céu e as
nuvens que passam, lentamente. Os olhos acompanham tudo tentando aproximar os
momentos que vão lá pra longe. Cada nuvem que vai, um alguém que foi. Foi pra
ela porque eles nem se deram conta de que um dia eram. Ah, o amor! Quanto amar
assim, só dela! O amor dela que fica só com ela! Talvez sejam os dedos que teimam
em sempre escolher as melhores nuvens, as mais belas, as mais distantes e as mais dificeis de ficar. E o
que sobra pra ela? Ver cada uma passar, lentamente, diante dos olhos doloridos.
Dolorido ao coração e mágico para a poesia. Vamos então poetizar! Usar o amor
que nasce nela (só nela) como arte de um poeta! Mas não se esqueçam: ela não
aprendeu a ser poeta, só aprendeu a sorrir e a fechar os olhos para esperar uma
nuvem, quem sabe, ficar!
Texto: Duane Valentim
Imagem: Duane Valentim
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
Morena
Saí de casa apressado. Peguei a
moto e fui correndo para o trabalho. Fiz do trânsito algo automático e segui
sem reparar em nada. Ao mesmo tempo que parei em um semáforo, uma mulher, vestida de
preto, esperava para atravessar. Ela olhava para o chão e fazia algum movimento
com a mão tentando manter os cabelos fora do rosto branco. Ao pisar na rua
para atravessar, o vento, como que brincando, jogou com força todo o cabelo dela
para trás. Ela fechou, bem de leve, um pouquinho dos seus olhos. Seus lábios se
esticaram num prazer inexplicável. Os meus lábios copiaram os dela e me peguei
sorrindo, dentro do capacete, para aquela mulher que passava. Aquela linda mulher
morena que chegou ao outro lado da rua e que nunca mais vi.
Texto: Duane Valentim
Foto:Stanley Kubrick
domingo, 30 de setembro de 2012
Amor de domingo
Olhos preguiçosos da manhã.
Os lábios acordaram antes, sorrindo.
Era domingo!
Logo veio da janela o céu azul cutucar as pálpebras dos preguiçosos olhos.
Era manhã de domingo!
Dia molengo-molengo.
De tão molengo, me fez lembrar de outros domingos:
Desses que os lábios acordam primeiro e sorrindo.
Desses que a gente dorme e acorda meio-dia achando que é manhãzinha.
Desses que a cama fica apertada lembrando dos outros domingos apertados.
Cabem tantos domingos dentro de mim.
Mas eles são todos assim: começam tarde e terminam cedo.
Fechemos os olhos e voltemos a dormir:
os domingos não precisam de mim.
Texto: Duane Valentim
Os lábios acordaram antes, sorrindo.
Era domingo!
Logo veio da janela o céu azul cutucar as pálpebras dos preguiçosos olhos.
Era manhã de domingo!
Dia molengo-molengo.
De tão molengo, me fez lembrar de outros domingos:
Desses que os lábios acordam primeiro e sorrindo.
Desses que a gente dorme e acorda meio-dia achando que é manhãzinha.
Desses que a cama fica apertada lembrando dos outros domingos apertados.
Cabem tantos domingos dentro de mim.
Mas eles são todos assim: começam tarde e terminam cedo.
Fechemos os olhos e voltemos a dormir:
os domingos não precisam de mim.
Texto: Duane Valentim
quinta-feira, 20 de setembro de 2012
Do lado de dentro
Hoje ela se olhou pelo lado de
dentro. Viu todas as ilusões escorrerem de dentro dos seus olhos. E lá no fundo
é sempre a mesma história: imaginando sempre mais do que realmente é.
Imaginando sempre mais e sendo sempre menos. E é disso que ela gosta: inventar
o que se sente, fantasiar o que se quer. Ela começa, então, uma briga com os
olhos: eles não guardam as ilusões que rolam pelo rosto dela, e embora pese demais,
ela não quer se livrar do exagero de coisas que sente, do exagero de coisas que
o outro não sente.
Ouviu seus olhos calarem: mas e se os olhos dele nunca mais
voltarem?
Suas pernas bambearam. Não havia mais nada para escorrer de dentro
dos olhos dela, ou os olhos dela aprenderam a guardar as ilusões inventadas.
Hoje ela se olhou pelo lado de
dentro. Sentiu medo do tudo sente.
Texto: Duane Valentim
Tela: Mulher em Prantos, Pablo Picasso
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