Saí de casa apressado. Peguei a
moto e fui correndo para o trabalho. Fiz do trânsito algo automático e segui
sem reparar em nada. Ao mesmo tempo que parei em um semáforo, uma mulher, vestida de
preto, esperava para atravessar. Ela olhava para o chão e fazia algum movimento
com a mão tentando manter os cabelos fora do rosto branco. Ao pisar na rua
para atravessar, o vento, como que brincando, jogou com força todo o cabelo dela
para trás. Ela fechou, bem de leve, um pouquinho dos seus olhos. Seus lábios se
esticaram num prazer inexplicável. Os meus lábios copiaram os dela e me peguei
sorrindo, dentro do capacete, para aquela mulher que passava. Aquela linda mulher
morena que chegou ao outro lado da rua e que nunca mais vi.
Texto: Duane Valentim
Foto:Stanley Kubrick
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