terça-feira, 29 de dezembro de 2009

O Vermelho no Cinza

Ela caminhou em direção a porta e sentou-se. Olhou para o céu ensolarado com seus olhos vazios e cansados, mas sorriu.

Um carro qualquer parou em frente ao portão vizinho. Ela reconheceu o som que de dentro dele saia e seus pés se movimentaram de um lado para o outro inconscientemente.

Ela estava cansada e preguiçosa, mas levantou-se. Fechou os olhos, abriu seus braços e fez com que seus pés acompanhassem a música que vinha por detrás do muro.

Como uma criança, ela dançou. Rodopiou por todos os espaços inabitados e soterrados por ventos antigos.

Como um bêbado, deixou seu corpo solto e mole, e dançou lentamente:

os seus braços soltos para o ar,

os lábios soltos para o céu

e os pés soltos para o chão.

Uma alegria inexplicável aveludava seus pensamentos.

Desligou-se do todo vindo lá de fora e ligou o todo que carregava ali dentro.

Sorriu para si. Afogou os mares de seus olhos e matou todos os ventos que insistiam nela esbarrar.

Dançava e sentia-se leve.

Dançava e sentia-se feliz a cada movimento.

Dançava e senti-se sem a necessidade de sentir.

Mas a porta do carro foi fechada. Ele partiu levando a música e a dança e a alegria embora.

Ela entristeceu.

Pausou seu momento colorido, sentou-se no mesmo lugar em que estava antes dele chegar, olhou para o céu novamente, abriu os lábios e murmurou:

- Não há felicidade intensa que não mereça um gole de tristeza.


Texto: Duane Valentim

sábado, 14 de novembro de 2009

Invertido





Afirmam que o fim vem depois do começo.

Ou este conceito é usado para termos didáticos ou eu, no meu desconcerto interno, é que vivo o contrário.

Impossível negar: É só quando algo acaba que começo a pensar incessantemente.

Meu início não antecede o fim. O fim vem primeiro e é ele o gerador de todas as buscas de um outro, e novo, começo.

(Duane Valentim)

sábado, 7 de novembro de 2009

Nossos Ventos


Fiz com que o som ao meu redor aumentasse para que eu não conseguisse distinguir uma só voz no meio daquela multidão. Fiz questão de fechar os olhos e entregar meu corpo ao balanço da música que eu mal sabia qual era. Fiz questão de deixar meus braços soltos esbarrando com todos os demais a minha volta.

E o vento me tocou.

Abri meus olhos bravos. Endureci os braços e caminhei em direção a caixa de som. Encostei meus ouvidos o mais que pude até sentir vibrar todo o silêncio que estava dentro de mim. Fechei os olhos novamente, tombei os braços e fiz o possível para que dessa vez o vento sumisse e eu sossegasse.

E o vento chegou perto de mansinho e assoprou bem baixinho: Sorria!

Obedecendo, dei-me conta de que o vento todo estava dentro de mim e que não importava quanta força eu fizesse para me desligar do universo ao meu redor que ele estaria li, mais próximo do que todos os eus dos quais me constitui.

Porque o que há de maior em todas as nossas dores, é derivado dos muitos acúmulos de ventos que vamos deixando nos invadir.

Porque o que há de menor em todos os nossos amores, é derivado dos muitos ventos que vamos deixando nos consumir.

Porque o constituir-se de ventos é tão grande quanto todos os amores que nos consomem, pois só assim, nos ventos, é que as dores se dissolvem.

(Duane Valentim)

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O inquietar dos olhos


Ele abre o livro pra pensar. Pensar não no que está escrito em cada linha. Seus pensamentos vagos fazem com que seus olhos percorram toda página, palavra por palavra, sem compreensão alguma.

Ele abre os olhos pra pensar. Fixa um ponto qualquer no chão, um canto da parede ou as pontas do sapato. Ele olha minuciosamente para o nada. Olhos vagos e perdidos buscando um ponto que permita o encontro perfeito entre ele e ele mesmo.

O encontro não vem.

Os pensamentos não são mobílias. Não há como deixá-los no canto do quarto até que fiquem sujos pelo pó que vem de fora e esperar surgir uma alma bondosa para limpá-los. O pó todo está por dentro dele. Sujeira que se acumula dia após dia. E os pensamentos, agora sim, são como mobílias pesadas, difíceis de empurrar para o lado de fora da casa.

Ele olha para o alto e leva as mãos frias até o rosto na tentativa de pensar. E pensa. Pensa nessa última semana que contrasta com a inércia em que vive. Pensa no quanto o tempo é volátil, no seu eu volátil. Incertezas do mundo.

E ele busca o estável, o móvel de cimento que não permite mudanças em seu espaço. Ele busca o estável, o concreto, mas sabe que tem vontades que extrapolam a geografia limitada de seu coração.

Ele volta os olhos para o objeto que ainda segura entre as mãos e lá, na última linha do canto esquerdo: “Permita-se.”


 
(Duane Valentim)

sábado, 24 de outubro de 2009

Melodia Finita


A banda tocou novamente.
Passou em frente à praça nublada.

A banda tocou, desta vez, intensamente.
Envolvida, a praça sorriu.

A banda agora era flores.
A praça, melodia.

Clareou o dia.

A banda partiu tocando em silêncio.
A praça ficou com suas flores chovendo.



(Duane Valetim)

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

A Mancha

                               
Era um vestido novo. Vinha acompanhado por minhas mãos desastradas que seguravam um copo de vinho. Não demorou muito para que, como de costume, eu derrubasse todo o líquido do copo nas bordas do vestido.

Vinho mancha. Manchei meu vestido.

Enquanto olhava a mancha que se espalhava no pano branco, pus-me a pensar em quantas outras manchas vamos acumulando ao longo da vida. Manchas que não saem com sabão e nem com o tempo. Manchas que estragam, que cheiram mal, que corroem, que entristecem.

Algumas delas são derramadas por nós mesmo, muitas vezes, sem nos darmos conta de que irá manchar. Outras são derivadas de esbarrões que cometemos em pessoas que já estão por transbordar.

Algumas manchas são involuntárias e nos causam raiva porque estragam o passeio. Outras são propositais e, normalmente, não nos atinge: espirram em quem mais próximo de nós estiver.

Mas o que mais me entristece não são as manchas em si _ mesmo porque, manchas existem e estão aí para toda e qualquer mão desastrada_ mas o fato de buscarem sempre o que temos de novo e mancharem tudo, por fora e por dentro do pano.

Era um vestido novo.

Vinho mancha. Mancharam meu vestido.


(Duane Valentim)

domingo, 27 de setembro de 2009

O Saturar




O dicionário das dores foi queimado.
Não há mais nada para conversar.
A linha da ponte foi demolida
E não há mais por onde passar.

O sorriso de papel foi rabiscado.
Não há mais espaço para desenhar.
A mão de algodão foi empacotada
E não há mais nada para estofar.

O disco foi quebrado
A tv desligada
O livro jogado...
E não há mais nada para falar.


(Duane Valentim)

domingo, 20 de setembro de 2009

O Sono




Eu sei que amanhã terei sono. Eu sei, mas insisto em prolongar meu tempo acordada só para não ter que me ver pensando em todas as façanhas do dia que foi, do dia que é ou do dia que virá e não será.

Eu sei que amanhã terei sono. Desses acompanhados da preguiça que não deixa fugir pra lugar algum. Desses que o estado sonolento obriga a pensar apenas no vazio. E é tão bom pensar no vazio sem ter que senti-lo. E é tão bom sentir o vazio despreguiçando lentamente, calmo e se preparando para ser o vazio que ocupa. Mas não machuca.

Amanhã é um outro dia cheio de alegrias, de sorrisos, de palavras carinhosas. Amanhã é outro dia que vem para ser sonhado, ser cantado, ser vendido.

Amanhã é dia de construir. A noite é o dia de demolir. Amanhã é dia de preencher vazios. A noite é dia de esvaziar o nada. Amanhã é dia do sono vir. A noite é dia do sono sair. Amanhã é dia de abrir os olhos e dormir.

Eu sei que amanhã terei sono. Mas é só sono e sono passa. Pior é o que não passa. O que não veio. O que veio e já passou. O que só passou. O que não ficou. O que levaram.

Dorme que passa.

E amanhã terei sono. Eu sei.



(Duane Valentim)

domingo, 13 de setembro de 2009

Pernas e Braços

Foram os braços.

Não. Foram as pernas as culpadas.

Não, não. Certamente foram os braços. Eles que abraçaram por minutos eternos e profundos e silenciosos.

Não. Claro que não. Foram as pernas as culpadas. Elas estavam distantes e não ouviram o sussurrar. Foram as pernas as culpadas. Elas que sempre teimam em tremer e se afastar e dessa vez não teimaram.

Não, não. Pensando melhor, foram os braços. Estava frio e eles se fecharam. Ficaram encolhidos e preguiçosos dentro dos outros dois braços que eram apertados e intermináveis. Se os braços tivessem abraçado com maior força, se tivessem apertado, gritado, se tivessem no mínimo calado de vez...Mas não, teimosos ficaram escondidos e aconchegantes no enlace perfeito dos outros braços.

Mas as pernas falharam. São as culpadas. Elas teriam que caminhar e não estacionar. Elas teriam que correr do perigo de sentir, de deixar sentir. Mas ficaram ali, esperando o frio passar, o sol chegar, os olhos tremerem, o tempo derreter. Falharam!

Mas e os braços? Eles se aproveitaram do não caminhar das pernas e se enlaçaram ao outro par de braços.

Mas e as pernas? Elas não caminharam porque invejaram o movimento dos braços.

Calma. Eu explico:

Os dois são culpados.
Sim. São!
São culpados porque obedeceram toda a necessidade do meu coração.


 
(Duane Velentim)

domingo, 6 de setembro de 2009

O Dia

O dia chegou em uma noite iluminando meus espaços apagados. O dia sorriu e as estrelas da minha noite piscaram. O dia chegou e aqueceu meus pensamentos congelados, meus medos fantasiados e minhas dores emboloradas.

O dia foi chegando de mansinho, abraçou-me com carinho e os ventos ao redor se acalmaram. O dia foi brincando de fazer alegria e minhas flores adormecidas nasceram outra vez.

Houve um dia em que o dia tocou para mim a música que não escutei. O dia tentou sorrir na neblina e eu não enxerguei. O dia me iluminou e eu me escondi. O dia, cansado das minhas noites, entardeceu-se.

O dia partiu.
A noite trincou.


(Duane Valentim)

sábado, 22 de agosto de 2009

A Porta


A porta estava levemente aberta.

Ela ouvia o barulho dos carros que passavam lá fora. Ela sentia o vento que entrava e movia os papéis que estavam espalhados pelo chão. Ela imaginava as cores lá de fora e tentava adivinhar qual delas acariciaria sua imaginação. Ela se esforçava para que o espaço atrás da porta fosse mais interessante que todo o incompreensível mundo inventado para mascarar suas dores aqui de dentro.

O vento, como que desafiando as perdas impossíveis de se suportar, soprou mais forte e escancarou toda a porta. Ela correu tentar agarrar os poucos sonhos que restavam pelo quarto. Ela apertou com força a porta como que a culpando por ter permitido tamanha invasão. Ela chorou por todos os cantos e jurou fechar-se para qualquer e todo barulho de carros passageiros. Para todo e qualquer vento traiçoeiro.

A porta estava agora fortemente trancada mas os sons passavam pelas paredes e o vento passava pelas frestas da janela.

Ela trancou-se para o mundo sabendo que no fundo trancar-se é entregar-se a um eu devastador e perigoso. Assim, ela pôde sofrer dores suas, enfim.
(Duane Valentim)

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Sensação do Inverno


A sensação que tenho hoje é de que estava sonhando.Meus pés tocavam a grama molhada como que procurando um caminho que me trouxesse de volta a realidade. Realidade perdida depois dos nossos olhos terem se esbarrado, nossas mentes terem se chamado e os nossos lábios terem se tocado.

Lembro do seu sorriso macio e da sua voz ensolarada.
Lembro do seu abraço desajeitado e do seu olhar desarrumado.

Lembro que o tempo teimava em correr.
Lembro que os sons teimavam em desaparecer.

Lembro que a noite queria fugir.
Lembro que as cores queriam sorrir.

A sensação que tenho hoje é de que estava sonhando. Só em um sonho não sentiria o silencio de um inverno diante das minhas mãos abandonadas.


(Duane Valentim)

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

A Sala


Eu entrei na sala pela primeira vez porque me senti a vontade. Depois de um tempo ela era tão confortável que não queria mais sair. Havia outros ares que eu pudesse me divertir, mas gostava da sala. A sala me fazia bem mesmo com todo seu aspecto carregado de dores, seu ar áspero, suas cores secas. Era agradável porque se encaixava as minhas necessidades momentâneas, e eu gostava.

A sala, antes espaçosa, foi se tornando estreita. Todo o espaço não era o bastante para que eu pudesse pendurar todos os meus sonhos e ilusões nas paredes, todos meus livros desobedientes, meus filmes sem enredo, meus versos sem rimas e meus medos engavetados.

Chegou um momento que não sabia mais com quem era minha maior briga: se com a sala que me privava de caminhar no meu ritmo desritmado ou se com o meu espaço sem espaço.

Sei apenas que enquanto questionava as dores, a própria sala resolveu me expulsar. Fiquei transtornada. Tinha agora espaços demais, liberdades demais e alegrias demais para administrar. Era muito para alguém que se sentia tão pouco. Era grande para alguém que se via tão pequena. Era tudo novo para alguém que se acomodou com o velho.

Tranquei a porta da sala com muita dor e parti. Caminhei pouco e trombei com minhas casas antigas:


Eis o lugar em que ser eu já basta.

Eis o lugar em que todos os espaços não bastam.

Eis o lugar em que as melodias não precisam ter sons.

Eis o lugar em que os sonhos nunca serão em vão.



(Duane Valentim)

sábado, 25 de julho de 2009

Verdades Inventadas

Não sei me defender. Definitivamente não sei.

A sensação dolorosa que fica latejando aqui dentro, não é baseada na realidade dos momentos que vivo mas sim, em toda uma criação fantasiosa simulada por mim a fim de impedir qualquer possibilidade de tranqüilidade.

Não sei me defender dos meus pensamentos
e seus espaços sem mobílias;

Dos meus argumentos
e suas verdades empoeiradas;

Das minhas palavras
e seus ritmos riscados;

Dos meus gestos
e suas roupas gastas.

Definitivamente não sei me defender de todo esse caos que eu mesma crio logo após ver você partindo sem nem ter deixado mapas para que te seguisse, sem nem ter me deixado entender que apenas passaria... e só.

Não estar armada abre, diante de meus pés, todo um abismo de idéias ilusórias que ora me consome e ora me sustenta para que a harmonia entre o mundo lá de fora e o mundo aqui de dentro nunca esteja em equilíbrio.

A sensação que machuca aqui dentro é tão mentirosa quanto à verdade que inventei ai de fora.
Tudo porque não sei me defender. Definitivamente, não sei.


(Duane Valentim)

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Sensações do vazio



Que sensação estranha esta que prende teus pés no chão e te faz permanecer em uma inércia dos sem sentidos, como se o mundo todo rodasse, todas as pessoas passassem mas teus pés continuassem presos em elos imaginários.

Que sensação estranha esta que deseja a rejeição, que rejeita qualquer outro afeto, que borbulha sem trajeto e que ao mesmo tempo que te enfraquece, te alimenta.

Que sensação estranha esta que te agarra durante as noites, durante os sons mais altos, nas conversas mais longas e que te solta por pequenos instantes para que tu mesmo tenhas vontade de te prender novamente.

Que sensação estranha esta que borbulha dentro de um vazio, que te entristece nos instantes menos esperáveis, nos lugares menos prováveis e que te faz desejar estar só, que te faz desejar estar quieto, que te faz desejar o nada, absolutamente nada.

Que sensação estranha esta que te consome pouco a pouco...
Sempre:
Lenta
E silenciosamente.

(Duane Valentim)

domingo, 5 de julho de 2009

Bastidores


Ele nunca percebeu que as mãos dela tremiam quando ele se aproximava.
Ele nunca soube das noites que os olhos teimavam em não fechar.
Ele nunca pensou no quanto ela pensava.

Ela nunca entendeu o que os ligava.
Ela nunca questionou tudo o que faltava.
Ela nunca entardeceu durante as madrugadas.

E eles nunca dividiram o mesmo sonho.
E eles nunca terminaram a mesma conversa.
E eles nunca se distanciaram desde a primeira festa.

Era como se algo de dentro gritasse pra fora.
Era como se algo de fora girasse pra dentro.
Era como se algo de longe guiasse pra perto.

E ela sempre correspondia aos paradoxos dele.

E ele sempre correspondia às inspirações dela.
E eram dois. E eram eternos.


(Duane Valentim)

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Cambaleando


Entre mãos dadas e olhos molhados
Entre palavras macias e de desagrado
Entre o tempo que corre e que não passa

Cambaleamos...

Entre tardes de sol e sorrisos noturnos
Entre abraços e afagos
Entre músicas e filosofias

Cambaleamos...

E cambaleando, sonhando e sentindo.
Cambaleando, sentindo e sonhando.
E cambaleando...seguindo...
(Duane Valentim)

sábado, 27 de junho de 2009

Estou procurando...

_ _ _ _ Estou procurando!_ _ _ _

Não há o que lamentar sobre a morte.
Definitivamente, não há!
O que é terrível aos olhos meus não é a morte em si,

mas a vida que levam as pessoas
(ou não levam!) até chegar à morte sua.
Pessoas que não reverenciam suas próprias vidas.
Vidas que não reverenciam sua própria pessoa!
Claro!
Estão ocupadas. Há terceiros!

_ _ _ _ Estou procurando!_ _ _ _


Calma...

Cheias de algodão estão suas mentes.
Como se deve pensar, esqueceram.
Permitem que terceiros, quartos e quintos pensem por elas.
Afogando estão no algodão!
No algodão estão afogando!


Calma...

_ _ _ Estou tocando_ _ _


Para elas é tocada a melhor canção de todos os tempos...
Ouvir não conseguem. Estão cheias de algodão!
A melhor valsa? A melhor flor?
Já disse que não conseguem...
E ainda lamentam sobre a morte, a morte suas!
Não deram conta de que não sobrou nada para morrer.
Para morrer não sobrou nada...

_ _ _ Pode procurar_ _ _!



(Duane Valentim)

Fluxo

Estuda menina, estuda!Dizia o homem.
E eu estudava.

Trabalha menina, trabalha!Dizia a gente.
E eu trabalhava.

Anda menina, anda logo.Dizia a multidão.
E eu andava.

Ama menina, ama. Dizia meu coração.
E eu errava!

Pensa agora menina, pensa. Dizia minha cabeça.
E eu só sentia.



(Duane Valentim)

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Mágoas

Coloque tuas armaduras:
defenda-te;
fira-me.

Use de teu tom seco:
machuque-me;
cura-te.

Desapareça com tuas tragédias:
consola-te;
liberta - me.

Agora que tens a distancia pedida,
A razão concedida:

Vá!

... eu fico a esperar!




(Duane Valentim)

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Nossa historia é estranha

Nossa historia é estranha.

E o que dirá dos meus planos, perdidos num azul nublado...
Soltos.
Aleatórios
Indivisíveis...

Nossa historia é estranha porque não teve inicio.
Não teve roteiro.
Não teve intenção...

E o que dirá das músicas suspensas no ar, das palavras escritas sem rimas, dos diálogos incompletos...

Nossa historia é estranha devido a todas as estranhezas do mundo...
Estranhezas caladas.
Estranhezas criadas.
Estranhezas imaginárias...

Nossa historia é estranha porque não é nossa.
Não nos toca por um mesmo tom, um mesmo tempo...

É estranha porque não segue o infinito necessário que nos delimita.


Duane Valentim