segunda-feira, 3 de agosto de 2009

A Sala


Eu entrei na sala pela primeira vez porque me senti a vontade. Depois de um tempo ela era tão confortável que não queria mais sair. Havia outros ares que eu pudesse me divertir, mas gostava da sala. A sala me fazia bem mesmo com todo seu aspecto carregado de dores, seu ar áspero, suas cores secas. Era agradável porque se encaixava as minhas necessidades momentâneas, e eu gostava.

A sala, antes espaçosa, foi se tornando estreita. Todo o espaço não era o bastante para que eu pudesse pendurar todos os meus sonhos e ilusões nas paredes, todos meus livros desobedientes, meus filmes sem enredo, meus versos sem rimas e meus medos engavetados.

Chegou um momento que não sabia mais com quem era minha maior briga: se com a sala que me privava de caminhar no meu ritmo desritmado ou se com o meu espaço sem espaço.

Sei apenas que enquanto questionava as dores, a própria sala resolveu me expulsar. Fiquei transtornada. Tinha agora espaços demais, liberdades demais e alegrias demais para administrar. Era muito para alguém que se sentia tão pouco. Era grande para alguém que se via tão pequena. Era tudo novo para alguém que se acomodou com o velho.

Tranquei a porta da sala com muita dor e parti. Caminhei pouco e trombei com minhas casas antigas:


Eis o lugar em que ser eu já basta.

Eis o lugar em que todos os espaços não bastam.

Eis o lugar em que as melodias não precisam ter sons.

Eis o lugar em que os sonhos nunca serão em vão.



(Duane Valentim)

5 comentários:

  1. mudou tudo mas ainda assim eu me senti amada pelas suas palavras bonitas hihi

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  2. As mil faces de Duane... O conto me prendeu de um jeito que foram necessárias diversas leituras pra chegar a uma conclusão: Estou encafufado!
    rsrs... A escolha de palavras foi fantástica, a sua descrição foi fabulosa, mas queria saber o que vc realmente quer dizer. É a sua mente? Experiência? É só uma sala? Uma sala especial?
    AAAAAAAAA... Você saiu do estado de conforto e me levou para o verdadeiro mundo da literatura...
    Obrigado!

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  3. é perfeito .... minha Clarice .....
    o espaço e o "eu"!

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