Uma luz no fim do túnel. E que luz!
Du's Botiquín
"Quero sempre estar da maneira que não estou" (Fernando Pessoa)
quarta-feira, 21 de outubro de 2015
Do que vejo no que vejo
E chega a ser cômico nossa pequenez no mundo. Acho que todos precisávamos experienciar essa pequenez gigante. A gente se sente assim...como posso dizer... mais humano. Minimamente humano.
Do que vejo no que vejo
A harmonia das cores e a tranquilidade desse lugar tornam nossa alma tão
calma e tão leve que por um momento, um longo momento, esqueci-me do
tempo. Esqueci-me mim.
terça-feira, 19 de novembro de 2013
O bicho
Acordei, abri a janela e no cantinho, lá estava ele. Embora eu tenha gostado da visita, peguei um papel e fui empurrando o bichinho para o lado de fora. Mas ele não se mexia. Dei por morto. Chorei a morte do meu mais novo e morto companheiro.
Fui ao banheiro pegar um papel, agora, para secar meu choro por ter matado, talvez espremido, um bichinho tão molenga e sem graça. Pois não é que quando voltei ao quarto, lá estava ele passeando pela janela? E vivo??
Como é que pode, até um bicho desses me enganando? Pois coloquei para fora foi no grito! Onde já se viu uma coisa dessa?
Como é que pode, até um bicho desses me enganando? Pois coloquei para fora foi no grito! Onde já se viu uma coisa dessa?
Fechei a janela para garantir que ele tinha ido embora, mas o calor tomou conta do quarto e abri os vidros novamente. Olhei para o lado de fora do prédio e ali, logo abaixo da janela, estava ele, com a cabecinha levantada esperando uma fresta para entrar. Claro que de olhar seus olhos arregalados, senti uma vontade de saber até onde ele iria. Deixei entrar. E se não fosse a foto, seria uma bela metáfora.
Texto: Duane Valentim
Foto: Duane Valentim
sexta-feira, 1 de novembro de 2013
Aquela noite. Aquele dia.
Ela queria que mais um dia, o dia fosse noite. Aquela noite.
Noite dela, de cabelo gelado de sereno, de música alta, de fumaça que engasga, do
corpo que dança. E assim, calar o grito de dentro, o choro preso na
garganta, a inércia da sempre espera que espera.
Aquela noite. Só dela, das
vontades dela. Sem olhos desbotados, sem risadas mudas, sem goles pequenos.
Mas o dia invadiu a noite dela. Fez amanhecer dentro dela. Fez os olhos enxergarem o que na noite ela não via. Fez a música calar e ela escutar a dor que de dentro vinha. Fez a bebida cair salgada pelo seu rosto. Fez seu corpo dobrar ao meio. Estava fadada a não viver a noite. Noites, só do lado de dentro.
O dia machucava. Ela sorria.
Mas o dia invadiu a noite dela. Fez amanhecer dentro dela. Fez os olhos enxergarem o que na noite ela não via. Fez a música calar e ela escutar a dor que de dentro vinha. Fez a bebida cair salgada pelo seu rosto. Fez seu corpo dobrar ao meio. Estava fadada a não viver a noite. Noites, só do lado de dentro.
O dia machucava. Ela sorria.
Texto: Duane Valentim
Imagem: Duane Valentim
segunda-feira, 14 de outubro de 2013
Ela diz
Ela tinha certeza que estava
feliz. Sentada ali no banco, olhando o nada e ouvindo o som do vento. Respirou
fundo. Como estou feliz! E essa certeza de dentro era enfraquecida por todas as
vozes que vinham de quem estava perto, de quem estava longe: Não, princesinha,
você ainda não está feliz. Não está completa. Te falta alguém. Alguém? Ela se
perguntava. Como alguém? Ela estava tão centrada no tudo que vivia, e feliz.
Saiu andando pelas ruas e sentindo o vento passando por dentro dos seus
cabelos. Como estou feliz! E essa certeza de dentro era logo afastada por todos
os pares de corpos que seus olhos esbarravam. Aquelas vozes todas na sua cabeça, gritando, repetindo, rodando, rodando, e
outra e outra vez e outra... e nessa tontura toda, quem lá é capaz de dizer que
está feliz? Ela diz. E anda, até de costas, se achar que isso a faz feliz.
Texto: Duane Valentim
quarta-feira, 25 de setembro de 2013
A mesma noite de todas as outras noites
E começa mais uma das noites de
olhos vermelhos pregados no teto do quarto. São as dores que ela inventa e que
se despertam quando se quer dormir. Ela escuta um ou outro carro na rua ao lado
do prédio e o vizinho do andar debaixo com suas cadeiras de ferro. Escuta sua
respiração lenta e dolorida gritando do lado de dentro e se pergunta quantas
vezes mais ainda terá que gritar em silencio pela dor daquilo que não há e
nunca houve.
São os fios invisíveis que atravessam os nossos corpos e atingem a alma. Fios que ela não vê mas sente e mente pra si mesma que quer ser livre. Mente e sente pra si mesma a doçura e o amargo do inventado.
Fecha os olhos desbotados.
São os fios invisíveis que atravessam os nossos corpos e atingem a alma. Fios que ela não vê mas sente e mente pra si mesma que quer ser livre. Mente e sente pra si mesma a doçura e o amargo do inventado.
Fecha os olhos desbotados.
A
manhã trará mais invenções pra chorar.
Texto: Duane Valentim
Imagem: Modigliani
segunda-feira, 23 de setembro de 2013
Ainda não
Eu estava sentada em uma mesa da
lanchonete esperando meu lanche ficar pronto para eu levar para casa. Sentada
sozinha em frente à porta e de costas para a rua. Foi quando vi um lanche
embrulhadinho sendo colocado em uma sacola e o garçom perguntando “de que mesa
que é?”. O outro garçom apontou para mim e disse:
- É daquela mulher!
Daquela mulher? Mulher? Como assim “mulher”? Repete!! Não! Não repete!!
Não fiz nenhum gesto que indicasse que sim, o lanche era realmente meu. No mínimo devem ter pensado que além de mulher, eu fosse surda, mas aquela palavra (esta palavra, essa palavra) ficou ecoando no meu ouvindo. Em qual momento se fez a transformação?
Trouxe o lanche na sacola e a palavra nas costas. Tão pesada!
Na porta do prédio, duas meninas esperavam uma terceira chegar. Tão jovens! Senti saudades de mim! Maldita hora fui ter fome! Da próxima vez, ligo e peço para entregarem em casa!
- É daquela mulher!
Daquela mulher? Mulher? Como assim “mulher”? Repete!! Não! Não repete!!
Não fiz nenhum gesto que indicasse que sim, o lanche era realmente meu. No mínimo devem ter pensado que além de mulher, eu fosse surda, mas aquela palavra (esta palavra, essa palavra) ficou ecoando no meu ouvindo. Em qual momento se fez a transformação?
Trouxe o lanche na sacola e a palavra nas costas. Tão pesada!
Na porta do prédio, duas meninas esperavam uma terceira chegar. Tão jovens! Senti saudades de mim! Maldita hora fui ter fome! Da próxima vez, ligo e peço para entregarem em casa!
Texto: Duane Valentim
sábado, 17 de agosto de 2013
Evaporar
No evaporar do sempre,
Eu queria só o brilhar dos olhos dela.
Ela queria os meus para
sempre.
No alimentar daquilo que não se sente.
No movimento que ela
teme, mas consente.
No querer inocente, dela.
Na inércia inconsciente, minha.
Na mão dela dentro da minha.
Na luz fria da madrugada fria.
Eu queria estar com ela?
Ela queria as noites minhas.
Olhos que chegam, cada par diferente.
Me afasto do querer dela.
Ela finge que não sente.
Texto: Duane Valentim
Fotografia: Cerejeira
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