sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Aquela noite. Aquele dia.

Ela queria que mais um dia, o dia fosse noite. Aquela noite. Noite dela, de cabelo gelado de sereno, de música alta, de fumaça que engasga, do corpo que dança. E assim, calar o grito de dentro, o choro preso na garganta, a inércia da sempre espera que espera. 
Aquela noite. Só dela, das vontades dela. Sem olhos desbotados, sem risadas mudas, sem goles pequenos.
Mas o dia invadiu a noite dela. Fez amanhecer dentro dela. Fez os olhos enxergarem o que na noite ela não via. Fez a música calar e ela escutar a dor que de dentro vinha. Fez a bebida cair salgada pelo seu rosto. Fez seu corpo dobrar ao meio. Estava fadada a não viver a noite. Noites, só do lado de dentro. 
O dia machucava. Ela sorria.


Texto: Duane Valentim
Imagem: Duane Valentim

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