sábado, 26 de janeiro de 2013

no infinito do teto


Como aqueles machucados que aparecem em nossas mãos sem sabermos o momento certo em que fizemos, e que só nos damos conta quando o sabão atravessa, vagarosamente, cada milimetrozinho do corte.
Como quando nossos lábios adormecem entre um copo e outro sem sabemos ao certo em qual dos copos perdemos o sensível do tato, o doce do gosto, o andar das pálpebras.
Como quando, entre um pensamento e outro, adormecemos em um pedaço da noite e acordamos crentes de ser noite ainda. Mas não é.
Como quando fazemos do nosso dia, noite. Da noite, os olhos no teto. Do teto, nosso infinito. Com fim.



Texto: Duane Valentim

sábado, 12 de janeiro de 2013

...da saudade que da



Em um desses dias lentos e chuvosos, desses que não se tem nada para fazer e que se tivesse, também não seria feito, tive a grande ideia de ficar vendo várias das fotos guardadas, carinhosamente, nos últimos cinco ou seis anos.

Juntando o dia cinzento, a melancolia de cada gota de chuva na janela e a saudade vinda de dentro de cada foto, fui me lembrando, com tristeza, das vidas divididas no passado e que andam, agora, com as mãos distantes.


A casa, tão pequenina, vivia cheia. Cheia de risadas, de sonhos, de terapia. Cheia de ideologias, de discussões sobre as injustiças do mundo e do sistema. Cheia de teorias sobre o amor misturadas com o cheiro da fumaça de cigarro. Misturadas com nossos medos do futuro e com os pelos do gato da vizinha.


Eu não sei ao certo onde foi que isso tudo se perdeu. Sei apenas que as coisas foram caminhando, caminhando e caminhando, até eu chegar à casa grande. A casa grande tem histórias novas e muitas fotos ainda para serem tiradas, mas sinto uma saudade enorme do vivido lá. E a culpa foi toda cinza, que não conseguiu trazer a casa pequena dentro da casa grande. Caberia.


Texto: Duane Valentim
Foto: Aniversário 2011