sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

O sol

Foi tudo meio assim, sem meio, com fim. O começo tinha cheiro de fumaça, um cachorro na calçada, gente se esbarrando, gente se escapando. Começo desajeitado, com pressa, mas depois as mãos grudaram, as histórias falaram, o sorriso saltou no rosto, os olhos brilharam e os braços se ajeitaram.

As palavras dele não sabiam, mas os ouvidos dela cantavam. Era como se os sonhos todos, afogados, viessem para a beira da praia e caminhassem. Algo dentro dela dizia que era possível encher-se de sol depois do nublado tempo, desenraizar os pés dos territórios passados e mover, mesmo que sem rumo, em direções contrárias.

E o sol foi indo, bem devagarzinho, iluminar outras regiões.

Ela respirou fundo. Sabia que já não era mais a mesma. Era sol nos olhos dela.

 
 
Texto: Duane Valentim
Imagem: "Sol e Lua"

2 comentários:

  1. Ae Du, move on...move on!

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  2. Foi simplesmente asssim. Nada muito especial, pelo menos para ela. Talvez tenha sido mais pra mim, esse ser deslocado do mundo comum. Eu acreditava que havia um sentimento puro, aquele mais verdadeiro que quase ninguém conhece ou pelo menos nunca viu. Dizem que estavam os dois vindo de caminhos opostos, cruzaram-se, olharam-se, voltaram a mirar um ao outro e seguiram.
    Poderia nada ter acontecido se esse gesto absurdo não tivesse acontecido. Se ele passasse e nem a observasse ou, decerto, se ela fingisse não ter visto seu olhar, ou ainda se ambos não se vissem naquela rua obscura... tudo seria diferente. Os passos seriam iguais, a noite seria a mesma, a lua menos estática e o vento menos frio.
    Eu até pensei em voltar, mas esperei que ela parasse; pensei que ela pudesse voltar, então parei um segundo... nada aconteceu de extraordinário. Agora, estou aqui pensando nela e tentando descobrir se ela pensou em mim ou sequer se lembra que fui um vulto no meio da noite fria de desse mundo comum de homens sem paixões.
    Du, fiquei lendo suas palavras (belas, por sinal) e só me pus a escrever uma boubagens. Hoje – pós Natal – andei meio pensativo, meio saudoso, nem sei por quê. Então, por acaso, caí em teu blog...(eu já havia lido outras vezes aqui)...e comeceu a ler de novo. Feliz ano novo, e um belíssimo 2011!
    Bjo,
    Nilson

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