sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Estique

Se estique menina...Coloque os pés pra fora dessa cama, seque esses olhos e se estique. Estique os braços até fazê-los tocarem o céu ou uma nuvem qualquer, mas alongue esse seu corpo e saia de dentro dessa toca. Ninguém mais aguenta te ver assim, nesses ossos corcundas, nessas unhas sujas, nesses cabelos sem corte e de roupas velhas. Ninguém mais aguenta seu silêncio mentiroso, seu sorriso opaco e seu caminhar lento.

É tudo incompatível mesmo. É tudo do avesso mesmo. Tudo ambíguo. Conforme-se sem questionar, é assim que se faz nos dias de hoje: quanto mais interrogações colocar, mais se abre pra machucar. Pare tudo e se estique. Pescoço, cabeça, coração...já venceu tudo mesmo, estragou, agora é só se esticar e sorrir e caminhar como se fosse tudo novo. Vale fazer tudo igual pensando que é novo. Vale apodrecer o novo achando que é velho. Vale tudo, basta se esticar.

Estique as pernas, ouvidos e olhos. Olhe lá longe e não sinta nada. Olhe lá pra trás e não sinta nada. Não olhe nada e sinta o que quiser. Só não vale estacionar! Vai esticando que logo você alcança a bala que te atravessou a garganta e parou no peito. Aliás, tudo vai parando no peito. É bom às vezes limpar, jogar fora as sujeiras acumuladas. E se lá no fundo ainda houver alguma poesia na memória, se estique ainda mais: é de poesia que a alma se envenena.



Texto: Duane Valentim

Um comentário:

  1. Concordo em esticar. Só não acho que já tá tudo vencido; pelo contrário, com você tá tudo em dia.

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