domingo, 22 de agosto de 2010

Divergir

Hora de despertar.
Os olhos se fecham doloridos e a cabeça acorda.
Os pensamentos voltam todos, mas o corpo se levanta.

Hora de voltar. 
As pernas caminham até o ponto de ônibus.

...

Os olhos passam por tudo o que é fixo do lado de fora da janela.
Passam árvores e casas do lado direito.
A mão esquerda, teimosa, procura o corpo ao lado para repousar. 
Corpo ali não há.

Os dedos ficam gelados, os olhos molhados, a garganta se fecha, e mais uma lágrima corre em direção ao queixo.
A cabeça tomba no vidro e os olhos gritam.

E o ônibus segue: “por que tão rápido?”
E as pernas se encolhem contra o corpo: “cada qual com seu jeito de afastar a dor.”

E o ônibus para. As pernas descem.
O primeiro segue. A segunda, cala.




Texto: Duane Valentim

Um comentário:

  1. encheu meus olhos e matou minha saudade das suas palavras. com final digno do seu talento e da sua dor. maravilhoso.
    e viu, eu calo com você quando precisar. mas segue comigo, ta?

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