sábado, 17 de abril de 2010

Na Rua

Eu ia pela rua. A calçada era mais segura, mas eu preferia a rua.
Ia descendo contornando a calçada quando senti que havia esquecido a chave de casa. Parei para checar e demorei para encontrá-la. Mas estavam lá, perdidas no fundo da bolsa.

Olhei para frente e vi um rosto conhecido. Sim, era ele, vindo de encontro. Mas ele, sempre mais seguro que eu, andava pela calçada. Mas eu não tinha medo dos carros. Tinha medo dos olhos dele nos meus que tem o dom de congestionar tudo o que dentro de mim dorme.

Respirei fundo e caminhei querendo permanecer parada. Ele ia chegar perto. Ele ia parar e dizer algo.

Segurei a respiração e sequei na calça as mãos que suavam. Ele ia me olhar. Ele ia parar e me tocar com aqueles olhos frios e úmidos.

Apertei forte a chave entre meus dedos. Mordi meus lábios secos e saudosos.

E ele vinha. Lentamente.

Dois passos de mim.

Um passo.

Em mim.

Ele seguiu pela calçada.

Eu, pela rua. Doída e sem fim.



Texto: Duane Valentim

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