quarta-feira, 25 de setembro de 2013

A mesma noite de todas as outras noites



E começa mais uma das noites de olhos vermelhos pregados no teto do quarto. São as dores que ela inventa e que se despertam quando se quer dormir. Ela escuta um ou outro carro na rua ao lado do prédio e o vizinho do andar debaixo com suas cadeiras de ferro. Escuta sua respiração lenta e dolorida gritando do lado de dentro e se pergunta quantas vezes mais ainda terá que gritar em silencio pela dor daquilo que não há e nunca houve.

São os fios invisíveis que atravessam os nossos corpos e atingem a alma. Fios que ela não vê mas sente e mente pra si mesma que quer ser livre. Mente e sente pra si mesma a doçura e o amargo do inventado.

Fecha os olhos desbotados. 
A manhã trará mais invenções pra chorar.



Texto: Duane Valentim
Imagem: Modigliani

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Ainda não



Eu estava sentada em uma mesa da lanchonete esperando meu lanche ficar pronto para eu levar para casa. Sentada sozinha em frente à porta e de costas para a rua. Foi quando vi um lanche embrulhadinho sendo colocado em uma sacola e o garçom perguntando “de que mesa que é?”. O outro garçom apontou para mim e disse:

- É daquela mulher!

Daquela mulher? Mulher? Como assim “mulher”? Repete!! Não! Não repete!!

Não fiz nenhum gesto que indicasse que sim, o lanche era realmente meu. No mínimo devem ter pensado que além de mulher, eu fosse surda, mas aquela palavra (esta palavra, essa palavra) ficou ecoando no meu ouvindo. Em qual momento se fez a transformação?

Trouxe o lanche na sacola e a palavra nas costas. Tão pesada!

Na porta do prédio, duas meninas esperavam uma terceira chegar. Tão jovens! Senti saudades de mim! Maldita hora fui ter fome! Da próxima vez, ligo e peço para entregarem em casa!



Texto: Duane Valentim