Olhos preguiçosos da manhã.
Os lábios acordaram antes, sorrindo.
Era domingo!
Logo veio da janela o céu azul cutucar as pálpebras dos preguiçosos olhos.
Era manhã de domingo!
Dia molengo-molengo.
De tão molengo, me fez lembrar de outros domingos:
Desses que os lábios acordam primeiro e sorrindo.
Desses que a gente dorme e acorda meio-dia achando que é manhãzinha.
Desses que a cama fica apertada lembrando dos outros domingos apertados.
Cabem tantos domingos dentro de mim.
Mas eles são todos assim: começam tarde e terminam cedo.
Fechemos os olhos e voltemos a dormir:
os domingos não precisam de mim.
Texto: Duane Valentim
domingo, 30 de setembro de 2012
quinta-feira, 20 de setembro de 2012
Do lado de dentro
Hoje ela se olhou pelo lado de
dentro. Viu todas as ilusões escorrerem de dentro dos seus olhos. E lá no fundo
é sempre a mesma história: imaginando sempre mais do que realmente é.
Imaginando sempre mais e sendo sempre menos. E é disso que ela gosta: inventar
o que se sente, fantasiar o que se quer. Ela começa, então, uma briga com os
olhos: eles não guardam as ilusões que rolam pelo rosto dela, e embora pese demais,
ela não quer se livrar do exagero de coisas que sente, do exagero de coisas que
o outro não sente.
Ouviu seus olhos calarem: mas e se os olhos dele nunca mais
voltarem?
Suas pernas bambearam. Não havia mais nada para escorrer de dentro
dos olhos dela, ou os olhos dela aprenderam a guardar as ilusões inventadas.
Hoje ela se olhou pelo lado de
dentro. Sentiu medo do tudo sente.
Texto: Duane Valentim
Tela: Mulher em Prantos, Pablo Picasso
segunda-feira, 10 de setembro de 2012
Das coisas que sinto
Das coisas que sinto, minto:
Pra preservar o tanto que sinto;
Pra conter o sorriso que escapa
(entre um silencio e outro);
Pra guardar a alegria que transborda;
Pra disfarçar a
ausência que não sinto;
Pra calar o abraço rouco.
Minto que acredito na própria mentira
que finjo.
Porque são tantas, tantas, as coisas que sinto.
Texto: Duane Valentim
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