quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Alguém

Eu, que como remédio das minhas dores submersas, inventei o dia lotado, os deveres e os prazos. Menti para os meus sonhos adiados, ignorei os alcançados, ri do meu choro e chorei por me ver sentada buscando uma dor para ser chorada.

Eu, que fiz de mim o barulho silenciado, que esqueci os poemas decorados e deixei morrer as cores da casa, me vejo, agora, sem nada para culpar. Nada. Ninguém.

Não há nada que me faça levantar dessa cama e me libertar desses pensamentos tão vazios, tão sem importância, tão sem esperança. Não há nada nem ninguém que me faça sair pelas ruas, sair pela noite, sair de dentro dessa casca mentirosa. Não há nada nem ninguém que me prenda no vazio escuro que escolhi ficar, que me prenda nesses sapatos imóveis, que me prenda nessa dor que não há.

Não há ninguém para segurar a mão livre e jogada num canto do corpo melancólico. Não há ninguém por quem o sorriso escape no rosto, por quem os olhos respirem a paz calma e doentia de quem ama.

Não há ninguém. Não há.


Texto: Duane Valentim
Tela: Tristeza

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