Foi tudo meio assim, sem meio, com fim. O começo tinha cheiro de fumaça, um cachorro na calçada, gente se esbarrando, gente se escapando. Começo desajeitado, com pressa, mas depois as mãos grudaram, as histórias falaram, o sorriso saltou no rosto, os olhos brilharam e os braços se ajeitaram.
As palavras dele não sabiam, mas os ouvidos dela cantavam. Era como se os sonhos todos, afogados, viessem para a beira da praia e caminhassem. Algo dentro dela dizia que era possível encher-se de sol depois do nublado tempo, desenraizar os pés dos territórios passados e mover, mesmo que sem rumo, em direções contrárias.
E o sol foi indo, bem devagarzinho, iluminar outras regiões.
Ela respirou fundo. Sabia que já não era mais a mesma. Era sol nos olhos dela.
Texto: Duane Valentim
Imagem: "Sol e Lua"