Ele abre o livro pra pensar. Pensar não no que está escrito em cada linha. Seus pensamentos vagos fazem com que seus olhos percorram toda página, palavra por palavra, sem compreensão alguma.
Ele abre os olhos pra pensar. Fixa um ponto qualquer no chão, um canto da parede ou as pontas do sapato. Ele olha minuciosamente para o nada. Olhos vagos e perdidos buscando um ponto que permita o encontro perfeito entre ele e ele mesmo.
Ele abre os olhos pra pensar. Fixa um ponto qualquer no chão, um canto da parede ou as pontas do sapato. Ele olha minuciosamente para o nada. Olhos vagos e perdidos buscando um ponto que permita o encontro perfeito entre ele e ele mesmo.
O encontro não vem.
Os pensamentos não são mobílias. Não há como deixá-los no canto do quarto até que fiquem sujos pelo pó que vem de fora e esperar surgir uma alma bondosa para limpá-los. O pó todo está por dentro dele. Sujeira que se acumula dia após dia. E os pensamentos, agora sim, são como mobílias pesadas, difíceis de empurrar para o lado de fora da casa.
Ele olha para o alto e leva as mãos frias até o rosto na tentativa de pensar. E pensa. Pensa nessa última semana que contrasta com a inércia em que vive. Pensa no quanto o tempo é volátil, no seu eu volátil. Incertezas do mundo.
E ele busca o estável, o móvel de cimento que não permite mudanças em seu espaço. Ele busca o estável, o concreto, mas sabe que tem vontades que extrapolam a geografia limitada de seu coração.
Ele volta os olhos para o objeto que ainda segura entre as mãos e lá, na última linha do canto esquerdo: “Permita-se.”
(Duane Valentim)