domingo, 13 de setembro de 2009

Pernas e Braços

Foram os braços.

Não. Foram as pernas as culpadas.

Não, não. Certamente foram os braços. Eles que abraçaram por minutos eternos e profundos e silenciosos.

Não. Claro que não. Foram as pernas as culpadas. Elas estavam distantes e não ouviram o sussurrar. Foram as pernas as culpadas. Elas que sempre teimam em tremer e se afastar e dessa vez não teimaram.

Não, não. Pensando melhor, foram os braços. Estava frio e eles se fecharam. Ficaram encolhidos e preguiçosos dentro dos outros dois braços que eram apertados e intermináveis. Se os braços tivessem abraçado com maior força, se tivessem apertado, gritado, se tivessem no mínimo calado de vez...Mas não, teimosos ficaram escondidos e aconchegantes no enlace perfeito dos outros braços.

Mas as pernas falharam. São as culpadas. Elas teriam que caminhar e não estacionar. Elas teriam que correr do perigo de sentir, de deixar sentir. Mas ficaram ali, esperando o frio passar, o sol chegar, os olhos tremerem, o tempo derreter. Falharam!

Mas e os braços? Eles se aproveitaram do não caminhar das pernas e se enlaçaram ao outro par de braços.

Mas e as pernas? Elas não caminharam porque invejaram o movimento dos braços.

Calma. Eu explico:

Os dois são culpados.
Sim. São!
São culpados porque obedeceram toda a necessidade do meu coração.


 
(Duane Velentim)

3 comentários:

  1. 'São culpados porque obedeceram toda a necessidade do meu coração.' lindo!

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  2. Pera aí... Travei... de verdade! Qualquer coisa que eu disser não vai ser necessário... O texto é auto-explicativo e completo em sua totalidade! Desde a ideia de tentar botar a culpa em que... AAAAAAAAAAAAA Que porra de texto lindo menina! De verdade, meu preferido, sem dúvida nenhuma!!!

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  3. O exacerbamento do Alexandre ilustra; maravilha de texto! Realmente um dos melhores seus.
    De chorar, menina, de chorar. Muito bem escolhidas as palavras e o jogo entre elas. Lindo! Coisa fina.

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