A porta estava levemente aberta.
Ela ouvia o barulho dos carros que passavam lá fora. Ela sentia o vento que entrava e movia os papéis que estavam espalhados pelo chão. Ela imaginava as cores lá de fora e tentava adivinhar qual delas acariciaria sua imaginação. Ela se esforçava para que o espaço atrás da porta fosse mais interessante que todo o incompreensível mundo inventado para mascarar suas dores aqui de dentro.
O vento, como que desafiando as perdas impossíveis de se suportar, soprou mais forte e escancarou toda a porta. Ela correu tentar agarrar os poucos sonhos que restavam pelo quarto. Ela apertou com força a porta como que a culpando por ter permitido tamanha invasão. Ela chorou por todos os cantos e jurou fechar-se para qualquer e todo barulho de carros passageiros. Para todo e qualquer vento traiçoeiro.
A porta estava agora fortemente trancada mas os sons passavam pelas paredes e o vento passava pelas frestas da janela.
Ela trancou-se para o mundo sabendo que no fundo trancar-se é entregar-se a um eu devastador e perigoso. Assim, ela pôde sofrer dores suas, enfim.
(Duane Valentim)