Ela caminhou em direção a porta e sentou-se. Olhou para o céu ensolarado com seus olhos vazios e cansados, mas sorriu.
Um carro qualquer parou em frente ao portão vizinho. Ela reconheceu o som que de dentro dele saia e seus pés se movimentaram de um lado para o outro inconscientemente.
Ela estava cansada e preguiçosa, mas levantou-se. Fechou os olhos, abriu seus braços e fez com que seus pés acompanhassem a música que vinha por detrás do muro.
Como uma criança, ela dançou. Rodopiou por todos os espaços inabitados e soterrados por ventos antigos.
Como um bêbado, deixou seu corpo solto e mole, e dançou lentamente:
os seus braços soltos para o ar,
os lábios soltos para o céu
e os pés soltos para o chão.
Uma alegria inexplicável aveludava seus pensamentos.
Desligou-se do todo vindo lá de fora e ligou o todo que carregava ali dentro.
Sorriu para si. Afogou os mares de seus olhos e matou todos os ventos que insistiam nela esbarrar.
Dançava e sentia-se leve.
Dançava e sentia-se feliz a cada movimento.
Dançava e senti-se sem a necessidade de sentir.
Mas a porta do carro foi fechada. Ele partiu levando a música e a dança e a alegria embora.
Ela entristeceu.
Pausou seu momento colorido, sentou-se no mesmo lugar em que estava antes dele chegar, olhou para o céu novamente, abriu os lábios e murmurou:
- Não há felicidade intensa que não mereça um gole de tristeza.