Foram os braços.
Não. Foram as pernas as culpadas.
Não, não. Certamente foram os braços. Eles que abraçaram por minutos eternos e profundos e silenciosos.
Não. Claro que não. Foram as pernas as culpadas. Elas estavam distantes e não ouviram o sussurrar. Foram as pernas as culpadas. Elas que sempre teimam em tremer e se afastar e dessa vez não teimaram.
Não, não. Pensando melhor, foram os braços. Estava frio e eles se fecharam. Ficaram encolhidos e preguiçosos dentro dos outros dois braços que eram apertados e intermináveis. Se os braços tivessem abraçado com maior força, se tivessem apertado, gritado, se tivessem no mínimo calado de vez...Mas não, teimosos ficaram escondidos e aconchegantes no enlace perfeito dos outros braços.
Mas as pernas falharam. São as culpadas. Elas teriam que caminhar e não estacionar. Elas teriam que correr do perigo de sentir, de deixar sentir. Mas ficaram ali, esperando o frio passar, o sol chegar, os olhos tremerem, o tempo derreter. Falharam!
Mas e os braços? Eles se aproveitaram do não caminhar das pernas e se enlaçaram ao outro par de braços.
Mas e as pernas? Elas não caminharam porque invejaram o movimento dos braços.
Calma. Eu explico:
Os dois são culpados.
Sim. São!
São culpados porque obedeceram toda a necessidade do meu coração.
(Duane Velentim)