domingo, 22 de maio de 2011

O livro


O livro se soltou de suas mãos e foi cair de ponta em cima do pé esquerdo. As mãos, com remorso, correram socorrer o pé, mas as lágrimas já escorriam pelos cantos do rosto. Era só um livro e doeu pouco, mas aquela foi a desculpa para seguir chorando: agora ela tinha um motivo. Agora ela podia chorar a vontade. Se alguém perguntasse, a culpa era do livro! O pé estava vermelho, mais vermelho por culpa das mãos que o apertavam que por conta do livro, mas agora ela podia inventar uma dor para doer. Inventou tanto, que acreditou na própria mentira. Mentira que vivia.

Soluçava.


Texto: Duane Valentim
Imagem: Edward Hopper

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Fluxo

Você não perguntou, mas sim, estou bem. A casa está sempre cheia, a cabeça bem melhor ocupada, eu melhor ocupada... Sim, estou bem, mas alguma coisa na TV me fez sentir saudades, e também o frio desse inverno, além da barra de chocolate em cima da mesa. E tenho viajado bastante, conhecido gente nova, idéias, lugares... Mas algum vento tinha seu cheio, alguma fala sua fala, meus próximos sonhos seus sonhos. E quanto chorei de rir nesses últimos tempos, e quanto me diverti e cansei, e dormi e acordei rindo outra vez. E tenho gostado muito de tudo, e de tudo muito gostado, me amado e amado... E tirando tudo o que sou que é você, sim, estou bem.




Texto: Duane Valentim