terça-feira, 29 de dezembro de 2009

O Vermelho no Cinza

Ela caminhou em direção a porta e sentou-se. Olhou para o céu ensolarado com seus olhos vazios e cansados, mas sorriu.

Um carro qualquer parou em frente ao portão vizinho. Ela reconheceu o som que de dentro dele saia e seus pés se movimentaram de um lado para o outro inconscientemente.

Ela estava cansada e preguiçosa, mas levantou-se. Fechou os olhos, abriu seus braços e fez com que seus pés acompanhassem a música que vinha por detrás do muro.

Como uma criança, ela dançou. Rodopiou por todos os espaços inabitados e soterrados por ventos antigos.

Como um bêbado, deixou seu corpo solto e mole, e dançou lentamente:

os seus braços soltos para o ar,

os lábios soltos para o céu

e os pés soltos para o chão.

Uma alegria inexplicável aveludava seus pensamentos.

Desligou-se do todo vindo lá de fora e ligou o todo que carregava ali dentro.

Sorriu para si. Afogou os mares de seus olhos e matou todos os ventos que insistiam nela esbarrar.

Dançava e sentia-se leve.

Dançava e sentia-se feliz a cada movimento.

Dançava e senti-se sem a necessidade de sentir.

Mas a porta do carro foi fechada. Ele partiu levando a música e a dança e a alegria embora.

Ela entristeceu.

Pausou seu momento colorido, sentou-se no mesmo lugar em que estava antes dele chegar, olhou para o céu novamente, abriu os lábios e murmurou:

- Não há felicidade intensa que não mereça um gole de tristeza.


Texto: Duane Valentim